Dedos amarelados, foi a nicotina tentando arrancar de mim o nervosismo.
Olhos vermelhos, a parte mais inconsiderável da tristeza transformada em água e sal.
Ombros e pescoço duros feito pedra, porque pensava em algumas palavras, mas não tive força para torná-las som.
Durmo na sala; meu quarto tem lembranças. Lembranças de você falando que aquele seria nosso mundinho, porta fechada e quatro paredes, sem mães, sem gatos, sem mais nada. E isso me dói. Lembranças do plano rápido de fuga pra Holanda, você rindo e mostrando a língua, sapeca. Fuga de nós duas, não só sua.
E tudo que escrevo é tão ruim, pois é mero reflexo desfocado do que fiz. Do quão ruim foi o que fiz. E do tanto que não queria ter feito, do tanto que queria voltar no tempo.
Foi tudo tão absurdamente veloz. Não fui capaz de acompanhar e viver esse absoluto. Pessimista que sou, procurei defeitos e problemas. Ao não encontrar, fui e fabriquei a minha própria fonte gosmenta de sofrimento. Passando por cima de você, rasgando meu limite, pisando e cuspindo nessa linha que me foi invisível.
Não faz sentido pra mim estar longe de você. Nunca me passou pela cabeça. E talvez tenha 5 anos, talvez não seja tão crescida assim.
Não sou para você, pelo menos não agora. Gostaria muito de ser, você não faz idéia. Mas nunca quis ser e não é agora que serei mais um ego pra você deixar feliz, mais um motivo que te faça querer ir pra tão longe e por tanto tempo.
Peço desculpas mais uma vez. Sinceras. Espero que lembre como pra mim isso é difícil. Espero que essas palavras insossas tenham algum significado.
Melhores dias virão. Dias em que seremos nós mesmas de novo, uma com a outra. Dias em que saberemos que o que acontece agora é só pra gente ter a oportunidade de mostrar o dedo do meio pra vida, mesmo que ela nos dê limões.
É isso.