sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Ela tinha cigarros - graças a Deus - mas lhe faltava a chama. E foi andando por aquelas ruas semi-conhecidas, procurando um companheiro de vícios.
Entrou num café, queria uma água gelada. E viu, sentados harmoniosamente, rindo, pai e filha. Invejou a naturalidade com que se tratavam. O pai, fumante, faria sua felicidade:
- Com licença, você tem um isqueiro? - sorrindo, intrometida.
O velho sorriu de volta, pegando o aparato de metal da mesa. A garota fez menção de tomá-lo de sua mão, mas entendeu o costume antigo. Galanteador nos velhos tempos, ele quis acender seu cigarro. O vento atrapalha, claro. E a menina ri constrangida com o pai, olhando a estranha curiosamente. Interessada, possivelmente. Sucesso do pai e encanto da filha. Pensou ouvir um "broto", pensou perceber um toque sugestivo nos cachos. Simplesmente agradeceu sorrindo, piscando - pelo costume, pelo charme - e foi-se embora, no sol e na brisa.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

É.

Eu sou alguém aqui. E agora. Sou alguém louco, alguém inexistente. Sou alguém com, talvez, muitos amigos (imaginários). Sou alguém que se olha no espelho e não vê nada.
Sou alguém que fala sozinho nas escadas no metrô. Recita seus (meus) versos para ninguém.
Alguém que poderia ter morrido. E matado. E se tivesse matado algum dos meus amores, meu deus, como morreria. E sofreria antes disso, na tortura infinita do suicídio. E sofreria pela eternidade depois, pois teria arrancado a vida de alguém valioso.
Alguém sem certeza do que escreve, sem regras gramaticais. Sou alguém.
Sou alguém que não vê sentido em não poder encarar grandes olhos escuros. Alguém bêbado (a).
Sou alguém com ânsia. Do trauma. Da pinga.
Alguém que chora sozinho nas escadas da Paulista.
Sou aquele que não liga. E não pense que não penso. Sou somente boba. Recitando meus versos. No metrô. Antes da bronca da mãe.
Sou orgulhosa do orgulho que não faz sentido. Sou alguém sozinha. Pois tudo é imaginação, sei disso. Imaginários, já disse. E amo tanto essas produções de minha mente. E dói, como te falei hoje.
Sou alguém previsível. Mando mensagens. Sou alguém covarde.
Sou carente. E envergonhado. E sou neutra em algumas coisas. Gritando e ficando tímida. Sou alguém mutável, completamente.
E não me odeie por isso. Ou por outros motivos. Sou alguém louco. Completamente debilitada.
Olhos pequenos e escuros. Olhos quase claros. Muitos pares de olhos. Todos me encarando, com amor, quem sabe. Mas acusando também. Pois sou podre. Sou alguém de dedos tortos. E mãos infantis, feias. Sou alguém que perdeu metade disso tudo pelo caminho. E que pode (vai) perder a outra metade no passar dos anos. Ou dos dias. Sou alguém que desconfia.
Sou alguém vunerável. Com sentimentos de Chuck Norris (ria agora, é essa a hora). Nunca vou perder a piada. E desculpe se meu rosto sério te afeta. Quero sorrir. Pra fazer a todos somente o bem. Pois sou fraca. E volúvel. Sou alguém que não se ama. Alguém dependente.
Jogo essa responsabilidade, eu sei. E peço desculpas por isso. Sou alguém que sente muito, mas que não fala. Tenho nariz empinado, ainda. Não pergunte, também desconheço a razão.
Sou alguém que não precisa ter suas palavras lidas. Pois estas palavras não condizem com a falsidade que é base do que você acha ser eu. Nem eu sei quem sou. Já não sei o que é mentira. Já não sei o que é vindo realmente da concepção. Sou alguém que mente (e que novidade).
Sou alguém... abandonável, no final das contas. Você verá. Fale que é besteira agora, mas verá.
Pois me olho no espelho e não vejo ninguém. Olho minhas unhas, meus trejeitos. E tudo parece montado. Preciso do útero novamente. Preciso do calor da proteção. Do mundo, dos outros, de você e, principalmente (por mais brega que isso soe), de mim mesma.
Acho que sou alguém que nunca chorou e nem vai conseguir chorar todas as dores que envenenam tanto.
Sou absolutamente, irrevogavelmente, ninguém.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Estação

Tudo é recorte, pedaço perdido. Sou incompleta, estou em frações.
E mais uma vez, perdida em mim, me desespero.
- Filha, está tão abatida.. - ela diz, aflita.
Estou entre o choro e a náusea, vendo faixas pretas, imagens sem alma. Desculpe, mamãe. Estou frágil como um cristal antigo e empoeirado. E opaca. Suja.
Exaustão. Sabe o que é isso? Exaustão daquela que incapacita mente e corpo, mas é vil e não te deixa repousar. E se você teima, tem pesadelos. O cansaço te prega peças. E você sonha estar caindo no infinito, pulmões comprimidos, ouvidos queimando. A cama parece te engolir e o coração já acorda disparado. O dia seguinte passa por você enquanto você olha assustado para todos os cantos, procurando o Murphy que vai te foder.
Então tudo se torna zunido, barulho dolorido, sinfonia de obra. O mundo gira, eu não posso acompanhar. Quero parar e filosofar, fazer piada-sem-graça no banco da pracinha. Sentir o cheiro do café e encarar a fumaça do cigarro, da boca, descobrir seus caminhos.
E não posso, ironicamente. É verão. Não posso, simplesmente. E não sei o motivo. Nunca soube.

sábado, 14 de novembro de 2009

E eu não vou mudar quem eu sou... Provavelmente vou me machucar, mas vou ser fiel à minha índole.
E foda-se! \o/


(beuds, claro)